sexta-feira, janeiro 13, 2006

(Crítica) Being John Malkovich

Being John Malkovich
de Spike Jonze

E se pudesse ser outra pessoa? Seria John Malkovich?

Craig Schwartz (John Cussack) é um mariotenista deprimido. Passa os dias em casa, que é uma espécie de abrigo de animais graças à sua mulher Lotte (Cameron Diaz). Pressionado por ela, arranja um emprego na Lester Corp como arquivador no andar 7 e 1/2. Conhece nesse andar Maxine (Catherine Keener), uma provocadora por natureza e fica obcecado com ela.
Num determinado dia, encontra uma porta atrás de um arquivo que o leva para dentro de John Malkovich. A partir desse momento, cria um negócio que permite a qualquer um ser Malkovich por uns momentos.

Este foi o filme que trouxe Spike Jonze para um público mais mainstreem, embora fosse já nessa altura (e a par de Michel Gondry) um dos grandes nomes de realização de videos de música. Trouxe também o trabalho do alucinado Charlie Kaufman, um dos mais interessantes argumentistas da actualidade.
Being John Malkovich, data de 1999 embora tenha sido lançado em 2000 em Portugal. Foi nomeado para três Oscars embora não tenha ganho nenhum mas o que a Academia não destacou, outros premiaram. Na totalidade o filme ganhou 45 prémios desde o seu lançamento.
Falando da obra, mas focadamente, temos um filme "impossível". Uma viagem ao interior não só de Malkovich mas de Kaufman. A história espelha uma narrativa surreal, onde a barreira entre o imaginário e a realidade é extremamente ténue.
Como uma Alice no País da Maravilhas, caímos pela toca e somos levados pela história. John Cussack está irreconhecível (embora continue mal de amores em quase todos os filmes que faz) mas o destaque vai para Cameron Diaz que mostra que tem mais para dar do que o "corpo ao manifesto". Tem uma prestação muito boa e carrega-se muito bem durante todo o filme. As personagens são fortes e o filme vive muito disso. A angústia e os problemas delas são fundamentais e "esprimidas" totalmente.
Quanto à realização, a escola que Jonze tem dos videos só lhe dá uma mais valia. Para quem está habituado a contar histórias em 3 ou 4 minutos, ter 2 horas é um sonho. Podia-se caír em redundância ou em filme narciso, mas tal não acontece. A história flui bem, embora por vezes exista uma ambiente algo desconfortável. Tecnicamente, é um filme apetrechado de planos e sequências sublimes. A selva urbana é o pano de fundo e num ambiente surreal, o ambiente geral é hiper-realista o que dá um toque de ironia bem engraçado.

Este filme ultrapassa largamente o exercício de estilo e é uma obra notável de engenho e imaginação.

8/10