quarta-feira, agosto 09, 2006

(Crítica) Happy Endings



Happy Endings
de Don Roos

Imaginem um filme a começar com uma cena realmente intensa durante cerca de um minuto e no fim da qual a única personagem que conhecemos até então se suicida. Nesse momento somos informados de que estamos na presença de uma comédia! Não é assim que este filme começa (não queria estragar a surpresa para quem ainda vá ver) mas também não anda muito longe.

Agora prestem atenção! Mamie Toll (Lisa Kudrow) engravidou adolescente, de Charlie Peppitone (Steve Coogan), filho do seu padrasto. Decidiram abortar. Agora 20 anos depois apareceu Nicky Kunitz (Jesse Bradford), estudante de realização, que descobriu que Mamie nunca abortou e que diz saber onde se encontra o seu filho, mas que só revela caso Mamie o deixe filmar o reencontro. Ah! Mamie entretanto vive com um massagista mexicano de seu nome Javier. Charlie entretanto é gay e vive com Gil. Existe ainda Otis, um adolescente, filho de pai rico, mas que trabalha no restaurante de Charlie. O seu pai chama-se Frank (Tom Arnold) e a nova vocalista da banda de Otis, Jude (Maggie Gyllenhaal) anda a comer tanto pai como filho, que, atenção, também é gay. Eu podia continuar assim por muito mais tempo, mas acho que perceberam a ideia.

O filme é complexo, tem 2h20 e além do constante movimento das personagens ainda estamos sempre a ser alertados para diversas situações atravez de comentários que aparecem escritos no ecrã, como se o filme estivesse a ser narrado, mas por escrito. As histórias são-nos apresentadas de início, ligadas por uma linha muito ténue, mas que se vai fortalecendo e criando um universo bastante interessante. Eram mesmo precisos 140m para contar esta história? Não. Mas também não nos sentimos fartos porque existe um constante desenvolvimento do enredo e das personagens. O universo vai-se compondo à medida que as questões morais vão aparecendo. Também ténue é a separação entre o que é comédia e o que é drama, sendo que na verdade, rapidamente nos esquecemos que existe a componente cómica.

Gostava só ainda de chamar a atenção para o casting que acho muito inteligente e até arrojado, fugindo em vários casos às personagens tipo que seriam dadas a estes actores, como por exemplo Lisa Kudrow, que tem um papel em nada cómico, e que, apesar de manter muitos dos tiques que ficaram ao fim de mais de 10 anos na série Friends, faz um bom trabalho.

É possivel ver este filme de uma forma relaxada e sem grande esforço da parte do espectador e, ainda assim, perceber o que se passa, mas tenho a certeza que quem estiver com paciência para seguir com um pouco mais de atenção vai ter direito a uma experiência bastante agradável e acima da média.

8/10