quinta-feira, fevereiro 23, 2006

(Crítica) Brokeback Mountain

Brokeback Mountain
de Ang Lee
(2006)

"I wish I knew how to quit you!"

Brokeback Mountain é considerado por muitos uma verdadeira obra-prima, tem um palmarés de prémios verdadeiramente impressionante e é quase certo que levará para casa as estatuetas douradas destinadas a premiar o melhor filme e o melhor realizador. Porquê? Também gostaria de saber. O filme é efectivamente bom mas, pessoalmente, acho que não chega sequer perto do estatuto de obra-prima.
Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal) são dois cowboys que no Verão de 1963 são enviados para Brokeback Mountain com o intuito de guardar ovelhas. Na solidão do local acabam por se apaixonar mas a relação amorosa é abruptamente interrompida quando o empregador dá o trabalho por terminado. Cada um segue a sua vida, casam, têm filhos e encontram-se esporadicamente. Se ignorarmos o facto de estarmos a falar de uma relação homossexual, as linhas gerais da história não são particularmente originais ou, na minha opinião, interessantes.
O factor de diferenciação reside na sensibilidade imprimida por Ang Lee e na sua capacidade de despertar emoções no espectador. O problema é que estes dois trunfos estão presentes de forma muito intermitente e a maneira como a história está contada acaba por também não ajudar. De facto, há acontecimentos que parecem algo precipitados e fazem com que o envolvimento do espectador no drama emocional dos dois protagonistas não seja tão profundo como poderia ser. Para além disso, se é verdade que o desenrolar da relação na montanha funciona bastante bem e há uma conjugação bem sucedida da beleza do cenário e o amor verdadeiro entre Jack e Ennis, é igualmente verdade que o desenrolar da vida conjugal de ambos é algo limitado e funciona como travão à imersão do espectador. No entanto, se é verdade que o espectador passa bastante tempo relativamente alheado do sofrimento representado na tela, também é justo destacar uma cena magistralmente conseguida em todos os aspectos e onde o sentimento está à flor da pele: [spoiler] a visita de Ennis à casa dos pais de Jack [/spoiler].
Heath Ledger e Jake Gyllenhaal têm interpretações de grande nível e merecem os louvores que têm recebido. Estranho é o facto de um estar nomeado na categoria de melhor actor principal e outro na categoria de melhor actor secundário... esquema de produtora que antecipa a vitória de Phillip Seymour Hoffman com Capote? A nomeação de Michelle Williams para melhor actriz secundária parece-me algo exagerada, não tem um desempenho extraordinário ao ponto de merecer essa distinção. A banda sonora, da autoria de Gustavo Santaolalla, é simples e discreta, funcionando particularmente bem na criação do ambiente na montanha.
Em suma, Brokeback Mountain é um bom filme mas tem os seus problemas e, na minha opinião, não justifica todo o hype gerado nem é um justo vencedor dos muitos prémios que tem recebido, pelo menos naqueles em que concorreu directamente com o magnífico Munich.
6/10

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este é daquele tipo de filmes que o pessoal reage assim "Olha um filme sobre homosexuais gajos! xiiiii nc antes feito é realizado por um asiático kk! uau....é grande filme!!!"

O que é triste....e o Ang Lee tá a adorar esta formula visto fazer a "sequela" mas com gajas.....

Mas eu gosto destas situações é quando se repara quem segue o rebanho.....se este filme tivesse sido feito com actores portugueses e com o lançamento mediocre que os nossos filmes sao lançados. Ninguem iria ligar ou iriam falar mal durante tempos e tempos.

Mas pronto é estrangeiro é pq é bom!!

7:38 da tarde  
Blogger Ricardo said...

O filme tem méritos Paulo. Não sei se já viste ou não mas se é falado não é só por ser um filme sobre a relação homossexual de dois cowboys... simplesmente acho que não é tão bom como o pintam ;)

7:50 da tarde  
Blogger Nuno said...

Este acho que é daqueles casos em que temos de ter cuidado ao fazer a nossa análise, porque da mesma maneira que nos recusamos a deixar que o hype nos influencie pela positiva (a gostar do filme) acho que tambem devemos tentar que não gere em nós a reacção contraria, em que, quer seja bom ou mau, vamos sempre dizer que não gostamos só para sermos diferentes.

Repito o que já disse, e que pelos vistos é opinião geral deste blog: É um bom filme, mas a maioria dos prémios não são merecidos.

8:39 da tarde  
Blogger luis said...

e relativamente a ser feito em portugal...efectivamente já foi feito. e mal feito. com o odete.

o mérito do filme não reside a meu ver (e penso que pelas outras opiniões do blog dá para perceber isso) no facto de serem homossexuais. claro que é isso que vende o filme para o publico geral, mas quem gosta realmente do filme não liga ao facto de serem dois homens, e quem não gosta tanto também não é pelo facto de serem homossexuais.

1:28 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Eu não acho um bom filme. Tou-me nas tintas do para ser diferente so pq a maioria gosta e afins. Acho o filme completamente banal! Já vi muito piores. Mas ser banal nos dias de hoje não chega para mim.

Isso dos prémios são movimentos superficiais "humanos", isso não vale nada. Mas é assim que voces se regem. Voces adoram ter prémios nas prateleiras, exibir o que conquistaram. Eu não me apoio em objectos de significado mundial para subir na "cadeia alimentar".

Quanto á polémica do serem gays ou não. Também me estou nas tintas. Mas sim acredito cegamente que ele fez de preposito só para chamar atenção. Como vai fazer no próximo filme. E isso é para agradar/chocar as massas e eu odeio isso.

O único mérito que o filme tem é não ser totalmente mau! O que nos dias de hoje até é memorável haha

2:31 da tarde  

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