quinta-feira, fevereiro 09, 2006

(Crítica) Munich



Munich
de Steven Spielberg

"They're all gone"

5 de Setembro de 1972. 8 membros do Black September (grupo pertencente às milícias armadas Palestinianas, de seu nome fedayeen) entram antes das 5 da manhã na aldeia olímpica de Munich, onde estavam a decorrer os jogos correspondentes às vigésimas olimpíadas, armados com metrelhadoras e tomam como reféns, 11 membros da equipa olímpica Israelita. Entre as exigências estavam o libertar de 234 prisioneiros Palestinianos detidos em Israel. Estes rapidamente se apressam a recusar qualquer tipo de negociações e a Alemanha fica com uma situação especialmente complicada para resolver visto os reféns serem judeus. Ao fim de várias horas foi concedida, aos raptores, uma viagem de helicóptero até ao aeroporto, onde os esperaria um avião para os levar para o Cairo. Estes levaram consigo os 9 reféns ainda sobreviventes, mas ao chegar ao aeroporto veio ao de cima a incapacidade das autoridade alemãs para lidar com tal situação e a pista transformou-se num campo de batalha onde morreram os 9 israelitas, 5 dos 8 palestinianos e 1 polícia. Assim começou uma nova era do terrorismo com escala mundial.

Os 3 terroristas sobreviventes acabariam por ser libertados a 29 de Outubro, acatando a Alemanha as exigências de outro grupo terrorista que tomou controle de um avião de passageiros da Lufthansa. Quando Golda Meir (Primeiro Ministro de Israel) se apercebe que não iria ser feita justiça, secretamente ordena que a Mossad (Serviços Secretos de Israel) descubra e assassine os responsáveis pelo atentado de Munich. Um dos grupos organizados para tal efeito é liderado por Avner, a personagem principal deste filme.

É com esta sensação constante de que estamos a presenciar um dos mais intensos e marcantes acontecimentos da história da civilização moderna que Spielberg nos mantém ao longo das mais de duas horas e meia de filme. Usa inclusivamente bastantes vezes imagens reais de reportagens da altura do incidente, das quais se destacam os serviços noticiosos de Jim McKay para a ABC, onde ficaram célebres as palavras: "Our worst fears have been realized tonight. (...) They're all Gone". Somos então levados na odisseia do grupo de Avner enquanto este cumpre a missão de eliminar 11 alvos prioritários, e acompanhamos o desenvolver das personagens que vêem inevitavelmente as suas crenças a ser postas em causa no seu decorrer.

As actuações são boas mas valem mais como um todo do qual quero apenas destacar Lynn Cohen que faz um papel curto mas muito bom como Golda Meir. A banda sonora foi entregue ao senhor que nunca falha, John Williams. Mais uma vez entrega-nos uma composição que ajuda em grande parte a criar a tensão e o dramatismo que o filme exige. O trabalho de fotografia é também bastante bom, mas parece-me que o maior responsável pela alta qualidade do filme é mesmo Steven Spielberg que consegue juntar tudo de forma a contar uma história extremamente emocionante para quem está deste lado da tela.

O filme é baseado num livro escrito pelo jornalista George Jonas, que por sua vez é baseado na história contada por Yuval Aviv que aparece como Avner, o personagem principal. Houve já no entanto quem viesse dizer que os supostos factos não são verdadeiros e que Aviv não é quem afirma ser.

Ao ver Munich, não só somos presenteados com um excelente filme e uma lição de história recente, que ainda hoje faz capas de jornais, como somos também obrigados a rever aquilo que achamos que é certo ou errado, pois a perspectiva que nos é dada é de um lado que não estamos habituados e se calhar nem estavamos interessados em ver, mas a qual compreendemos e com a qual, até certo ponto, somos mesmo capazes de nos identificar. Este é, para mim, o melhor filme de Spielberg desde Schindler's List.

9/10