segunda-feira, janeiro 23, 2006

(Crítica) Crash

Crash
de Paul Haggis
Site Oficial

It's the sense of touch. In any real city, you walk, you know? You brush past people, people bump into you. In L.A., nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much, that we crash into each other, just so we can feel something.

Crash foi para mim um dos melhores filmes estreados em Portugal no ano que passou. Conta-nos as histórias de várias personagens cujos caminhos se cruzam por diversas vezes. O pano de fundo é a questão da intolerância racial e do medo baseado em estereótipos. Temos um detective (Don Cheadle) fechado em si mesmo, frio para com a namorada (Jennifer Esposito) e com uma mãe (Beverly Todd) drogada. A mãe, que estava a tentar livrar-se da dependência da droga, tem uma recaída quando o filho mais novo (Larenz Tate) desaparece de casa. Este filho é um ladrão de carros, que juntamente com o seu parceiro (Ludacris) pratica assaltos à mão armada. Ninguém está livre destes dois, nem sequer o "district attourney" (Brendan Fraser) e a sua mulher (Sandra Bullock), que não tolera ninguém de outras raças. Nem a empregada que cuida da casa e dos filhos nem o rapaz hispânico que vai trocar as fechaduras a sua casa. Rapaz este, que vive de um trabalho honesto para cuidar da sua mulher e da sua pequena filha. É durante estes biscates que conhece um persa (Shaun Toub) que sofreu durante toda a sua vida discriminação racial e como forma de protecção, tornou-se ele próprio racista. Temos ainda um produtor de televisão (Terence Howard) que sentiu durante toda a sua vida o tom de pele como um handicap e que se tornou passivo às ofensas. Até aquelas para com a sua mulher (Thandie Newton), feitas por um polícia racista (Matt Dillon) cujo parceiro (Ryan Phillippe) é tolerante, embora cobarde para tomar uma atitude.

É nesta panóplia de personagens que reside a essência do filme. A diversidade de pontos de vista e de experiências torna-o numa peça de exploração do racismo, sem o tom paternalista e educador em que tão facilmente se cai.
A forma subtil como trata comportamentos dentro de várias raças, subvertendo por vezes o cliché, é sem dúvida a principal mais valia do filme.
É duro, e nem sempre fácil de ver. Por vezes torna-se inclusivé num exercício de contemplação interior, quando nos aparecem comportamentos e pensamentos que nalguma altura foram nossos. Com isto não quero dizer que todos os espectadores do filme são racistas. Mas que acredito sinceramente que consciente ou inconscientemente já todos nos guiámos por ideias pré-concebidas.
As personagens, não são nada sem os actores, e temos neste filme um elenco impressionante, de actores conhecidos, e outros não tanto. Desde a mais recente sensação americana, Terence Howard (Hustle and Flow), até ao surpreendente rapper Ludacris que se porta totalmente à altura do restante elenco.
A dureza do enredo, é de certa forma atenuada, por uma forma de filmar bem tradicional e certinha. Em todos os momentos se sente contenção na câmara. Se isto poderá parecer à partida um ponto negativo, para mim traduz-se em dois factos. Ficamos com um filme mais fácil de ver e, consequentemente, com um filme humilde. Não existem pretensões de se tornar no educador da classe operária ou de mudar o mundo. O onanismo é deixado de lado em prole da história e tal facto só merece ser reconhecido como mérito.

No final das contas, este é um dos grandes filmes de 2005.

9/10

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

um olhar muito interessante sobre o racismo.
não será assim tão certinho... eu considero-o mesmo provoador em algumas abordagens, confrontando o espectador com os seus próprios julgamentos pessoais e preconceitos.
é, sem dúvida, um dos melhores filmes do ano de 2005.

9:13 da tarde  
Blogger luis said...

considero-o certinho não no recheio mas sim técnicamente. ou seja, não é no que diz mas como diz :)

9:48 da tarde  

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