(Crítica) Perfume: The Story of a Murderer
A transmissão dos cheiros foi bem conseguida através das imagens próximas, bastante explícitas e intensas de determinados elementos, restando, inevitavelmente, um certo desprazer quando se visualizam todos os perfumes e aromas (supostamente) agradáveis, dado que aquilo que captamos é, no máximo, um leve odor a pipocas.
Apesar de conseguir distinguir (forçosamente ou não) duas partes distintas no filme (curiosamente, separadas, quase certeiramente, pelo intervalo), todo ele, no seu conjunto, mantém um ritmo adequado. Na primeira parte, a música, o reduzido nível de conversação entre as personagens, a narração (acho que se pode incluir até o próprio tom de voz do narrador) e a pacificidade da acção em geral são elementos que contribuem para constituir uma atmosfera de quase fábula, sem que, no entanto, se chegue a sentir que o filme decorre a um ritmo lento. Na segunda parte, já se sente uma maior facilidade em relacionar o que se está a passar com a essência da história (ou pelo menos com a essência que o título nos faz esperar – a história de um assassino), mas novamente, nem por isso, o ritmo se torna demasiado acelerado.
Habitualmente, ao ver um filme, cujo livro li previamente, dificilmente consigo apreciar a história em si mesma, apenas a forma como ela foi adaptada para o cinema (sobrando, quase sempre, a desilusão de tudo estar diferente). Ora, este filme foi, sem qualquer dúvida, uma excepção à regra, pois não tive sequer de me esforçar para tentar afastar o livro da mente. Tudo isto, porque a adaptação é perfeita. A história coincide e, melhor que tudo, a visão coincide, quase perfeitamente. Esta lá o fedor de Paris, está lá a beleza das mulheres, perfeita e suficiente para nos fazer imaginar o melhor cheiro do mundo, está la a vacuidade de Grenouille e sua insaciabilidade por cheiros, no entanto, pouco mais se retira desta personagem. Acaba por se tornar algo difícil sentir ódio, repugnância ou qualquer sentimento relativamente negativo para com ele, levando-nos a pensar se a parte final do título não deveria ser mais focada nos assassinatos do que no próprio assassino.
8/10
4 Comments:
Bela crítica de estreia! Keep on the good work ;)
É exactamente por não conseguires sentir nada pelo personagem que este filme é mau...
boa critica, ritah :) vou ver o filme de certezinha! * bjinho
nao se sente nada pelo personagem porque ele é, nas palavras do proprio livro, "um monstro", "inhumano", "sem ligação aos seus demais da mesma especie"
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