segunda-feira, novembro 13, 2006

(Crítica) Perfume: The Story of a Murderer

O facto de ser uma história que se desenvolve em torno do universo dos cheiros, foi, sem dúvida aquilo que reteve muitos cineastas de pegar no projecto mais cedo. Ora, apesar de ter hesitado e temido o que dali iria sair (dado que o livro é um dos meus preferidos), tomei coragem, fui ver e fiquei bastante surpreendida.

A transmissão dos cheiros foi bem conseguida através das imagens próximas, bastante explícitas e intensas de determinados elementos, restando, inevitavelmente, um certo desprazer quando se visualizam todos os perfumes e aromas (supostamente) agradáveis, dado que aquilo que captamos é, no máximo, um leve odor a pipocas.


Apesar de conseguir distinguir (forçosamente ou não) duas partes distintas no filme (curiosamente, separadas, quase certeiramente, pelo intervalo), todo ele, no seu conjunto, mantém um ritmo adequado. Na primeira parte, a música, o reduzido nível de conversação entre as personagens, a narração (acho que se pode incluir até o próprio tom de voz do narrador) e a pacificidade da acção em geral são elementos que contribuem para constituir uma atmosfera de quase fábula, sem que, no entanto, se chegue a sentir que o filme decorre a um ritmo lento. Na segunda parte, já se sente uma maior facilidade em relacionar o que se está a passar com a essência da história (ou pelo menos com a essência que o título nos faz esperar – a história de um assassino), mas novamente, nem por isso, o ritmo se torna demasiado acelerado.


Habitualmente, ao ver um filme, cujo livro li previamente, dificilmente consigo apreciar a história em si mesma, apenas a forma como ela foi adaptada para o cinema (sobrando, quase sempre, a desilusão de tudo estar diferente). Ora, este filme foi, sem qualquer dúvida, uma excepção à regra, pois não tive sequer de me esforçar para tentar afastar o livro da mente. Tudo isto, porque a adaptação é perfeita. A história coincide e, melhor que tudo, a visão coincide, quase perfeitamente. Esta lá o fedor de Paris, está lá a beleza das mulheres, perfeita e suficiente para nos fazer imaginar o melhor cheiro do mundo, está la a vacuidade de Grenouille e sua insaciabilidade por cheiros, no entanto, pouco mais se retira desta personagem. Acaba por se tornar algo difícil sentir ódio, repugnância ou qualquer sentimento relativamente negativo para com ele, levando-nos a pensar se a parte final do título não deveria ser mais focada nos assassinatos do que no próprio assassino.

8/10

4 Comments:

Blogger Ricardo said...

Bela crítica de estreia! Keep on the good work ;)

12:30 da manhã  
Blogger P.R said...

É exactamente por não conseguires sentir nada pelo personagem que este filme é mau...

9:18 da tarde  
Blogger N said...

boa critica, ritah :) vou ver o filme de certezinha! * bjinho

12:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

nao se sente nada pelo personagem porque ele é, nas palavras do proprio livro, "um monstro", "inhumano", "sem ligação aos seus demais da mesma especie"

2:47 da manhã  

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