quarta-feira, março 01, 2006

(Crítica) Syriana

Syriana
de Stephen Gaghan

Syriana fala sobre a politicamente correcta problemática do petróleo. Contudo, não é um filme linear na crítica à situação da crise no médio oriente. Embora seja incisivo nesta crítica, não deixando grande espaço para decidir o partido a tomar, existe um bom gosto no tratamento da questão que muito me agradou.

Quando uma companhia petrolífera se funde com outra de forma a criar uma superpotencia do mercado, existe paralelamente, um pai e um rapaz que ficam sem trabalho devido à fusão. Consequentemente, os Estados Unidos tentam criar a instabilidade necessária de forma a prejudicar um negócio proveitoso que foi feito com a China de forma a recuperá-lo ou atrasá-lo. E aqueles que tentam com boas intenções fazer com que a situação de um povo melhore, são atacados pelos que lucram com a situação.

Muitos já contaram histórias paralelas. Contudo sentiram necessidade de mostrar estas histórias a tocarem-se. Syriana foge à regra neste ponto. Trata o espectador com o respeito necessário e não se torna paternalista. As ligações são feitas pelo próprio espectador seguindo as regras da acção-reacção.
Existem planos absolutamente sublimes que me chamaram atenção para o realizador. Stephen Gaghan tem tiques de Fernando Meirelles quando filma os trabalhadores muçulmanos que muito me agradaram. Não existe uma colagem excessiva, o que só lhe fica bem. Revela também algumas aproximações a Steven Soderbergh quando filma acção corrida e nos flashbacks. Existe uma câmera tremida que não sendo de uso exclusivo de Soderbergh, me pareceu algo próxima. No final de contas, existe um estilo próprio mas que transparece algumas influências.

O principal defeito do filme reside na forma como tenta contar as várias histórias. Existe muita coisa para contar e pouco engenho ao fazê-lo. Facilmente se perde o fio à meada e nos instantes finais do filme existe um arrastamento desnecessário de situações que cansa. Torna-se um filme difícil de se ver e desconfortável, mas que não deixa de estar cheio de mérito.

Um último destaque vai para George Clooney. Este ano, parece que foi um ano bom para o senhor e estava curioso em ver se existia fundamento nos elogios que já lhe teceram. Gostei bastante a forma como abdicou da sua imagem e da sua entrega à personagem. Como actor, Clooney tem as suas limitações (como qualquer actor), mas mostrou bastante humildade e tem um desempenho muito bom, embora ache que não digno de ser premiado.

Syriana, é um muito bom filme que deve ser visto com calma e de espírito relativamente aberto.
Não é fácil de se ver, mas é para mim díficil de não se gostar.

8/10