quarta-feira, janeiro 11, 2006

(Crítica) Jules et Jim

Jules et Jim
de François Truffaut

Ao começar a escrever sobre este filme, sinto-me bastante inseguro. Se existe algum ícone do cinema que deverá ser absolutamente respeitado é François Truffaut. Visto como uma das figuras mais emblemáticas da Nouvelle Vague, é sem dúvida um dos poucos que realmente moldaram o cinema contemporâneo.
O seu trabalhou inovou como o de poucos e por isso, não posso deixar de pensar que seja o que fôr que diga, ficará aquém da imortalidade de Truffaut.

Jules et Jim conta a história de dois amigos, coerentemente chamados Jules e Jim. Jules é alemão, e Jim francês. Vivem os dois em Paris e por entre as suas aventuras e desventuras amorosas, conhecem a enebriante Catherine. De personalidade intensa e de trato difícl, Catherine torna-se na figura de afecto principal de Jules. Casam-se e a Iª Guerra Mundial separa Jules de Jim. Os dois amigos, combatem em lados opostos, mas sempre com medo de matar o amigo que poderá estar no outro lado da trincheira. Anos mais tarde, reencontram-se e vivem os três uma história de amor peculiar. O fim contudo é trágico, como não poderia deixar de ser.

Se mais nada tivesse, o filme vale pelo arrojo visual. É sem dúvida impressionante pensar que o filme data de 1962 e tem uma audácia na forma como está filmado e consequentemente editado,
que muitos dos filmes de hoje em dia não conseguem alcançar. Os planos são estranhos, contudo estimulantes. As personagens nem sempre estão no centro geométrico da imagem. A edição contempla desde parar a imagem até à sobreposição de frames. Tecnicamente, este filme é um marco tão grande (embora não seja o primeiro de Truffaut) como o Chelovek s kino-apparatom (The Man with a Movie Camera) de Dziga Vertov.
Contudo, existe muito mais do que mestria técnica.
A história de amor livre e descomprometido poderá parecer hippie. Contudo, a relação de afectividade que une as personagens não pode ser simplesmente reduzida a isso. Tanto Jules e Jim estão apaixonados por Catherine. Contudo, ela ama os dois. Ela ama inclusivé, mais homens do que eles os dois. E Jules e Jim adoram-se de uma forma mais que fraternal. Nunca nasce no ecrã uma relação homo-erótica embora no livro ela apareça.
Estas relações vivem do flutuar das emoções e do constante desiquilibrio de Catherine.

Filmes como este dão sentido à palavra clássico. Um daqueles filmes para juntar a qualquer lista dos essenciais.

10/10